Os Evols e a Everything is New (ou de como quem está a começar aceita o que lhe dão)

Por 8.11.11 ,

Evols © Inês Martinho Costa

Já muito se disse sobre o caso dos Evols e da Everything is New. Acho que qualquer pessoa que leia a troca de e-mails entre a banda e a produtora fica mal disposta. Mas será que é só por a resposta da Everything is New ser inaceitável ou também por ela espelhar na perfeição a realidade em que vivemos? Vamos lá pensar se nós nunca aceitamos estágios que não foram pagos, ou se não estamos fartos de saber que no início temos sempre de ceder, porque enfim, coitadinhos, temos pouca experiência e ainda por cima, se o estágio for numa boa empresa não vamos ter a ousadia de recusar ou de pedir 300 euros que sejam. No fundo, o que me choca mais neste caso é haver tanta gente espantada com esta situação, achando mesmo que todas as outras produtoras são diferentes ou que isto só acontece na música, sem olhar para si ou para o que acontece à sua volta. A esta hora quantas bandas não estarão a pensar que no início tocaram de borla e foi assim que "chegaram a algum lado". Por tanta gente ter cedido e continuar a ceder é que quando alguém quer ser pago (por pouco que seja) pelos seus serviços isso se torna uma questão de "falta de humildade e presunção".
Aqui a questão é que ao lermos isto já ninguém pode ignorar uma coisa que sempre esteve cá e temos todos de fazer o papel de indignados. Por isso, sobre este caso, apetece-me dizer que os Evols fizeram uma coisa que eu não sei se faria, porque sim, também já fiz estágios e já me sujeitei em troca de achar que iria "fazer uma primeira parte para uma banda grande". Por isso, de quem é a culpa de haver situações destas? De todos nós, quando aceitamos o que nos dão, sem contra propostas que nos tornem mais dignos.

P.S. - Já que estamos a falar nos Evols, a Lina (do mui aconselhável Lina e Nando) enviou-me uma música dos rapazes chamada Galaxie in Vegas que é bem bonita. Quero ouvir mais. Está tudo a visitar o site da banda e a fazer download do disco.

8 comentários

  1. Concordo completamente, Cláudia. Quanto mais tempo continuarmos a aceitar situações de trabalhos não pagos (por achar que assim vamos chegar mais longe, porque temos de começar por algum, por não termos experiência, etc), mais essas situações vão continuar a existir.
    Eu não acho normal que se faça estágio atrás de estágio atrás de estágio (não remunerados), mas infelizmente é disso que os sites de emprego estão carregados e só isso que as empresas, grandes ou pequenas, têm para oferecer. Falo pelo menos na área do jornalismo, que é a que eu conheço melhor.
    Mas se, numa entrevista de emprego, recusar um lugar para um estágio não pago porque já fiz quinhentos como esse, porque já estive nessa situação, porque preciso de começar a encaminhar a vida a sério, juntar dinheiro, o que seja, então sou vista como uma pessoa sem humildade. E isso é muito triste.

    (e um beijinho para ti*)

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  2. Pois, é mesmo essa a questão. Isto que a Everything is New fez já deve fazer há anos e de certeza que acontece todos os dias, nalguma empresa, nalgum ponto do país e toda a gente sabe disso. Mas depois quem está à procura de trabalho e gostava tanto de ficar na área, põe-se a pensar "se eu não aceitar há muito quem aceite" e no fundo, "até foi uma sorte vir à entrevista e eles gostarem de mim" e pronto. Assim se vai perpetuando a escravatura moderna, aceite por todos.

    Bah.

    bejinhos Ritinha*

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  3. Opá que email mais chunga da promotora!

    Eu por acaso só fiz um estágio não remunerado, mas também já foi há muito tempo. Mas compreendo quem os aceite, entre fazer esse estágio e estar parada... aceita-se a escravatura.

    Os anúncios do Carga de Trabalhos na área da comunicação dão-me vómitos. Já faltou mais para se pagar para trabalhar.

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  4. Sim, é horrível.. É mesmo de se pensar que empresas são estas que não dispostas a apostar nem sequer o mínimo em quem lá trabalha.

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  5. Cláudia,

    A grande questão da revolta não é a EiN não querer pagar aos Evols. É a forma como responderam. Foi uma resposta mal-educada e tosca. A grande revolta está aí. E depois não é por sabermos que a situação sempre foi assim, que não vamos protestar. Como os próprios Evols disseram, eles também tocam de graça, e até têm o seu álbum disponível gratuitamente. Mas quando todas as partes vão receber dinheiro, eles também se acharam no direito de o receber. Direito da banda, dever do promotor.
    Eu não acredito que alguém pagasse 20 euros para ir ver os Evols e depois, já agora viam os Girls. Eu é que paguei 30 para ir ver os R.E.M, mas só porque os Suede faziam a primeira parte. Mas caramba, 20 euros por bilhetes. Os rapazes pediam 350. 18 bilhetes vendidos dava para pagar a banda e o técnico. Não queriam pagar os 350 e o jantar, ao menos negociassem de forma mais educada. Sei lá, arranjar um técnico mais barato. Pagar menos um pouco, não dar jantar. O grande problema foi mesmo os termos em que a resposta foi dada, ainda por cima sem cuidados ortográficos.
    Posto isto, a minha canção preferida dos Evols é Waves of Fire. Está disponível para transferência legal e gratuita em http://soundcloud.com/evols.

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  6. Olá Rodrigo,

    Eu concordo com tudo o que disseste, já tinha falado entre amigos precisamente dessas coisas todas, li opiniões no facebook, blogues, etc. Foi uma postura inadmissível. Mas eu só fiz este post, porque dei por mim a pensar que em todos os comentários a indignação das pessoas era praticamente só com a questão da borla em si (e não com a resposta) e isso é que me levou a este post. Porque afinal de contas isto farta-se de acontecer e todos sabemos que sim. E apesar de ser inadmissível uma postura daquelas, o que eu quis dizer com isto é que todos devemos pegar neste exemplo e pensar bem da próxima vez que não nos quiserem pagar pelo nosso trabalho - independentemente da resposta que nos derem.

    Já fiz o download do álbum e vou ouvir, que estou bem curiosa.

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  7. Exactamente, estamos em sintonia.
    Já agora, a Lana Del Rey não estava em todo o lado até ter lido o teu artigo. Agora sim, podes que dizer que está em todo o lado. Até nos Açores.

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